quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Symphony of Sorrowful song


esta é somente uma parte da sinfonia 2 de Gorecki. O compositor faleceu agora, dia 12/11/10......

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Jars of Clay - Frail

domingo, 18 de julho de 2010

Cidadania celestial no mundo de hoje

O texto de Mateus 5. 1-20 trata daqueles que são considerados cidadãos dos céus. Algumas características são realmente marcantes e valem a pena ser comentadas. Primeiro, o contexto em que Jesus diz isso. Ele diz isso aos seus discípulos. E é um texto para discípulos. Esse texto tão comentado jamais poderá ser vivido por alguém que não tem comprometimento com o mestre. Acho que essa é a primeira lição que nós podemos aprender sobre cidadania celestial. Não importa muito de onde viemos ou para onde vamos, em certo sentido... Importa o nosso grau de lealdade ao mestre. Antigamente, na época de Jesus, os discípulos sempre andavam junto com o mestre, sempre o escutavam, sempre tentavam fazer tudo o que ele mandava. Os discípulos viviam com o mestre.  Os cidadãos dos céus realmente se diferenciam por essa proximidade. Por isso esse texto é tão difícil para alguns. Somente estando conscientemente próximos d’Ele podemos passar para as bem aventuranças.

E aqui eis um texto difícil. O fato de Jesus falar de aventuranças em condições tão difíceis me faz refletir sobre até que ponto pode o homem chegar ao nível do sermão. Tolstoi é um exemplo clássico daquele que tenta, mas não consegue. Ele é um exemplo pois ele tentou. Ele é um exemplo porque ele chegou à conclusão óbvia: ninguém consegue. O padrão do reino não pode ser alcançado aqui. Mas ao contrário do que pensam alguns, eu concordo que o nosso dever como cidadãos do céu é justamente espalhar essas bem aventuranças com nossas vidas. Tentar ir além é o nosso dever. O tão famoso salto de fé é condição necessária para ser cidadão celeste. Sem fé é impossível agradar a Deus.

Agora, fica a questão. Como fica nossa cidadania celestial aqui na terra. Logicamente, não é nosso dever fugir do mundo. Os limpos de coração, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os humildes, todos eles são bem aventurados não porque vivem sozinhos, mas porque vivem neste mundo. Eles são bem aventurados por ser sal numa terra que ainda não viu a restauração de todas as coisas. São bem aventurados porque trazem luz em meio às trevas! Nosso dever celestial é iluminar, salgar, fazer a diferença. Ninguém faz isso escondido do mundo. É o que diz os versos 14-16.
Os cidadãos do céu trazem boas novas também. A lei foi cumprida em Cristo, como diz o verso 17-19. Isso significa que uma nova era foi inaugurada. Jesus cumpriu a lei e seus discípulos agora podem apregoar esse novo reinado de paz que logo será consumado, no sentido em que ele irá invadir tudo aqui de uma vez por todas. Nossa cidadania passa por essa responsabilidade. Veja o verso 19. Mesmo aquele que não cumprir esses mandamentos, mas ensinar, tem lugar garantido neste reino. Porém, é nosso dever, como diz Jesus na parte b, observar e ensinar, buscar ser esse grande homem do reino do céu.
Concluindo, toda vez que eu leio esse texto, eu tento fazer uma conexão com o primeiro verso de Mateus. Quando Jesus se assenta e começa a ensinar seus discípulos, ele já via o futuro, ele já via nossas vidas. Nós não temos nem podemos ver o futuro, mas é como já disse alguém: o professor se eterniza, embora ele não saiba até onde ele chegará. Há, como sempre, e aqui também, nas escrituras essa tendência de enxergar o futuro, de apontar para uma nova era. Mas eu acho que nem lá, nos céus, poderemos compreender o quanto somos importantes, o quanto nós ensinamos ao mundo, o quanto de beleza trazemos ao nosso redor...

Ismael Patriota

terça-feira, 6 de julho de 2010

Saint-Exupéry aterrissa, finalmente

Seu desaparecimento gerou um fascínio agora revivido com a descoberta de destroços de seu avião. Stacy SchiffThe New York Timesabril de 2004

Durante quase 60 anos, a lenda de Antoine de Saint-Exupéry, o aviador e autor de O Pequeno Príncipe, eclipsou a vida. Coisas mais substanciais e valiosas desapareceram - Atlântida, Santo Graal, 18 minutos e meio de uma fita da Casa Branca -, mas poucas geraram o fascínio eternamente associado ao escritor que, tomando emprestado um truque de sua criação mais conhecida, simplesmente desvaneceu-se no ar. 

Às 8h45 de 31 de julho de 1944, Saint-Exupéry decolou da Córsega numa missão de reconhecimento sobre a França ocupada. Devia estar de volta à 0h30. Às 3h30, foi oficialmente dado como desaparecido. Em abril de 1945, uma missa foi celebrada em sua homenagem. 
Mas ele nunca morreu exatamente. Ao ler sobre seu desaparecimento, Anne Morrow Lindbergh pôs o dedo na ferida que isso causou. Há uma terrível diferença, escreveu ela, entre "desaparecido e morto". Há também uma receita não tão secreta do que se transforma numa lenda. 
Os destroços de um avião retirado do Mediterrâneo foram identificados neste mês como da aeronave de Saint-Exupéry. Já se sabia da probabilidade de que o Lockheed P-38 estivesse a poucos quilômetros da costa de Marselha, de onde, em 1988, um pescador retirou de sua rede o bracelete de prata que identificava o piloto. Esta descoberta soluciona um mistério sobre o fim de Saint-Exupéry: ele estava onde se supunha que estivesse. As instruções que tinha naquele dia o teriam levado a voar sobre Lyon e foi na volta à Córsega que seu P-38 mergulhou no oceano. 
É improvável que o motivo da queda seja resolvido pelos destroços; mas não se pode dizer que o acidente tenha sido inesperado. Saint-Exupéry era o recordista de quase desastres da sua esquadrilha. Tendo se empenhado numa campanha para conseguir sua volta à ativa, pilotava um avião dentro do qual não cabia e no qual não podia voar confortavelmente. Não conseguia se comunicar com a torre de controle em inglês. A operação dos freios hidráulicos eram também um desafio para ele. Costumava confundir pés com metros. 
Os pilotos franceses na Córsega o conheciam como um escritor premiado e pioneiro da aviação. Já para os americanos era apenas um grandalhão desastrado, velho demais e mal treinado, que em apenas oito semanas com eles destroçou uma aeronave de US$ 80 mil. Por causa desse revés, foi impedido de voar sem cerimônia. Ele implorou por clemência; afirmou que estava disposto a morrer pelo seu país. "Não ligo a mínima se você vai morrer ou não pela França", informou-lhe o coronel Leo Gray, "mas não vai fazer isso num de nossos aviões". Era um caso de um tesouro nacional contra outro. 
Também foi um caso no qual Saint-Exupéry conseguiu o que queria. Já passara havia muito da época em que se sentia confortável; não conseguia se imaginar em nenhum outro lugar que não fosse na cabine de uma aeronave. A vida inteira tinha sonhado em escapar, ansiado por horizontes mais amplos, ameaçado trocar de planeta. Sentindo-se cada vez mais afastado de seus conterrâneos, cuja luta interna criticara; ferozmente antinazista, não apoiou nem De Gaulle nem os comunistas. Previu que a libertação não tiraria a França de seu infortúnio. 
Das suas frustrações pessoais e da sua incapacidade para se fazer entender em suas posições políticas surgiu O Pequeno Príncipe. Publicado em 1943, só mais tarde virou best-seller. Seu texto é interpretado sinistramente como uma morte anunciada, sua mística intensificada pela comparação entre o escritor e o assunto: arrogantes inofensivos cujas vidas consistem em partes iguais de vôo e amor fracassado, que caem na Terra, ficam pouco impressionados com o que vêem e acabam desaparecendo sem deixar rastros. 
Naturalmente que é fácil prever sua própria morte se você está disposto a cometer suicídio e, para aqueles inclinados a tais interpretações, há a mística questão dos pores-do-sol. O pequeno príncipe vive num planeta tão pequeno que consegue ver o sol se pôr precisamente 44 vezes ao dia - por coincidência, a idade de Saint-Exupéry quando morreu. (Por uma razão inexplicável, o príncipe assiste a 44 pores-do-sol somente na tradução inglesa. No original, são 43). O fato de Saint-Exupéry não ter desejo de continuar vivendo era evidente, porém não estava claro que pretendia se matar. 
Mas, com a descoberta da sua aeronave, essa teoria tem sido novamente trazida à tona na mídia da França. Foi para protegê-lo da indignidade de tal acusação - ou para sustentar um mito valioso - que sua família por muito tempo se opôs a todas as buscas. O destino de Saint-Exupéry permanece constante. Parece que o mito sempre será cultivado às custas do homem. 
O que muda é O Pequeno Príncipe, finalmente devolvido ao que foi na vida de seu autor: uma obra de ficção. Por muito tempo, carregou um ônus pesado, mais do que qualquer livro deve ter. Ninguém nunca esperou que P.L. Travers fosse transportado pelo vento oeste. O conto de fadas de Saint-Exupéry está novamente livre para se entrelaçar não com o enigma do autor, mas com os mistérios que tanto o aturdiram: é solitário no meio dos homens; a linguagem continua sendo uma fonte de mal-entendidos; mais do que nunca corremos afoitamente, sem saber bem o que estamos procurando. Pode ser mais difícil agora perder uma aeronave no Mediterrâneo do que era, mas alguns mistérios perduram. 
Como acontece com algumas verdades sobre o fim de Saint-Exupéry. A dele foi uma morte nobre. Como observou sua viúva, a saída foi sob encomenda, uma queda meteórica no fim de uma vida perseguindo estrelas. 
Também seu desaparecimento mostra todos os sinais de ter sido o fim que Saint-Exupéry queria. Na década de 1930, foi-lhe perguntado, dada sua já impressionante lista de escapadas por um triz, que tipo de morte preferiria. 

Escolheu a água. "Você não sente que está morrendo. Simplesmente sente que está caindo no sono e começando a sonhar." E lá, certamente, podemos deixá-lo.
 
 
Notícia do New York Times publicada no O Estado de S. Paulo em 20 de abril de 2004

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Interlúdio - uma rainha chamada Ester

A história de Ester se passa no contexto do reinado de Assuero. Quando Vasti se recusou a comparecer perante o Rei perante os seus convidados, terminou enforcada. Tempos depois se reuniriam em Susã as jovens que concorreriam ao cargo de Rainha. Ester, criada por Mordecai, estava entre elas. A bíblia diz que Ester foi a mais amada perante o Rei, dentre todas as mulheres.

Tempos depois ela ficaria sabendo por meio de Mordecai, de um plano secreto para matar Assuero. Ester iria dar a notícia pessoalmente ao Rei que tomaria as devidas providências. Mas a parte mais importante da história começa quando o Rei exalta Hamã acima de todos os príncipes, ao qual todos deveriam se prostrar. Como Mordecai não se prostrava, Hamã decide matar não somente ele, mas todo o povo judeu (Mordecai e Ester eram judeus). Ele consegue então uma ordem para aniquilar todo o povo judeu após mentir para o Rei, dizendo que eles se recusavam a obedecer as ordens reais e por isso deveriam ser aniquilados.

Após saber disto, Mordecai pede que Ester interceda perante o Rei pelo seu povo. Ester então entra com todo o povo judeu num jejum de três dias e depois se apresenta perante o Rei. Novamente encontrando graça perante ele, Ester o oferece um banquete juntamente com Hamã. Lá então o rei fica sabendo que Ester era judia e do plano arquitetado por Hamã. No final da história Hamã é enforcado e o povo judeu comemora até hoje a festa de Purim.

Após lermos o livro de Ester, percebemos que o agir de Deus permeou toda a história. Quem, a não ser Deus, poderia colocar Mordecai na hora e lugar exatos para ouvir do plano para matar o Rei, e assim, anos depois, livrá-lo da morte por meio do relato contado ao rei no dia exato que ele morreria? Quem, a não ser Deus, faria Ester achar graça perante todos, inclusive do rei, e assim interceder anos depois diante de Assuero pelo seu povo? Realmente não dorme nem dormita o guarda de Israel!

Porém devo ressaltar também o valor de Ester. Durante a leitura, fica a impressão de que ela é a protagonista de uma história importante O que quero dizer é que o autor do livro não quis exaltar o povo judeu. Pra mim, propositalmente a história se desenrola simples diante de nós, principalmente diante das atitudes de Ester: ela não precisa falar muito para cair na graça de todos, inclusive do Rei; ela se apresenta diante de Assuero (na primeira vez) sem os apetrechos que as outras candidatas usavam; todas as suas aparições nos livros são importantes e todas as suas falas não são fúteis - pelo contrário, são fundamentais para o desenrolar da história. Uma coisa que eu gostaria de destacar nela é a sua coragem. Sua beleza não a acomodou nem a tornou fútil. Ela se envolveu com questões importantes, soube valorizar uma beleza maior que a externa, mesmo não sabendo o que iria acontecer. Ester se torna então uma modelo exemplar: bonita por dentro e por fora. Uma mulher exemplar.


Ismael Patriota

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Um dia você aprende

Um dia você aprende
Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança ou proximidade. E começa aprender que beijos não são contratos, tampouco promessas de amor eterno. Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos radiantes, com a graça de um adulto – e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, pois o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, ao passo que o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol pode queimar se ficarmos expostos a ele durante muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe: algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferí-lo de vez em quando e, por isto, você precisa estar sempre disposto a perdoá-la.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva um certo tempo para construir confiança e apenas alguns segundos para destruí-la; e que você, em um instante, pode fazer coisas das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e que, de fato, os bons e verdadeiros amigos foram a nossa própria família que nos permitiu conhecer. Aprende que não temos que mudar de amigos: se compreendermos que os amigos mudam (assim como você), perceberá que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou até coisa alguma, tendo, assim mesmo, bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito cedo, ou muito depressa. Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que verdadeiramente amamos com palavras brandas, amorosas, pois cada instante que passa carrega a possibilidade de ser a última vez que as veremos; aprende que as circunstâncias e os ambientes possuem influência sobre nós, mas somente nós somos responsáveis por nós mesmos; começa a compreender que não se deve comparar-se com os outros, mas com o melhor que se pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se deseja tornar, e que o tempo é curto. Aprende que não importa até o ponto onde já chegamos, mas para onde estamos, de fato, indo – mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar servirá.

Aprende que: ou você controla seus atos e temperamento, ou acabará escravo de si mesmo, pois eles acabarão por controlá-lo; e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada ou frágil seja uma situação, sempre existem dois lados a serem considerados, ou analisados.

Aprende que heróis são pessoas que foram suficientemente corajosas para fazer o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências de seus atos. Aprende que paciência requer muita persistência e prática. Descobre que, algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, poderá ser uma das poucas que o ajudará a levantar-se. (…) Aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido: simplesmente o mundo não irá parar para que você possa consertá-lo. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, plante você mesmo seu jardim e decore sua alma – ao invés de esperar eternamente que alguém lhe traga flores. E você aprende que, realmente, tudo pode suportar; que realmente é forte e que pode ir muito mais longe – mesmo após ter pensado não ser capaz. E que realmente a vida tem seu valor, e, você, o seu próprio e inquestionável valor perante a vida.
                                                                                                                                                         Willian Shakespeare

sábado, 12 de junho de 2010

Interlúdio - O culto ao corpo

O texto da antropóloga Mirela Berger é ótimo. Quando terminamos, praticamente vemos diante de nossos olhos o retrato da nossa sociedade atual. A importância de estar fisicamente bem, a cobrança social, o apelo da mídia, as vitrines dos shoppings, a exposição do corpo, a influência da TV e dos amigos, até mesmo na competição por um trabalho, o corpo como bem de consumo, o enorme esforço individual requerido e até mesmo nosso clima tropical, tudo enfim que hoje causa no Brasil esse frenesi do culto ao corpo é muito bem concluído pela Mirela com o texto de José Rodrigues, do livro O corpo na história:

O indivíduo acaba por sentir em si o mal-estar silencioso derivado da talvez mais hermética das prisões, aquela que se constitui quando o homem passa a ser um carcereiro de si próprio, vivendo na ilusão de ser livre.”

Ao terminarmos o texto, vemos a grande diferença que Cristo faz à nossa sociedade atual. Veja que não é preciso ser cristão para perceber a prisão daqueles que cultuam o corpo hoje em dia. Quando fiz Filosofia da música na universidade, ficou claro também: há um grande problema com a sociedade atual. Nós, cristão sabemos o porquê. É interessante no texto o ritual ao qual se submetem aqueles que querem fazer parte desse mundo do culto ao corpo: primeiro tem de haver uma separação do indivíduo do grupo dos não malhadores, por exemplo. Depois, a transição do aprendizado das novas regras, novos hábitos de vida. E enfim, a consagração daquele que é agora um “malhador”. Aqui eu quero deixar bem claro que eu incentivo o cuidar do corpo, acho que é importante e que nada tenho (nem a bíblia tem) contra o viver bem e o estar bem. O problema é que isto virou um culto em nossa sociedade e o corpo agora é tratado como bem de consumo. O que constatamos com o texto de Mirela é que aqueles que entram nesse ritual colocam sobre si um enorme peso, uma carga que posteriormente vai custar caro.

Cristo nos livra dos pesos que a sociedade tenta impor, das ilusões que tantos alimentam. Ele nos livra desses conceitos perniciosos que nada instruem sobre a vida ou sobre Deus. As palavras e conceitos vazios felizmente não ilude alguém que teve um verdadeiro encontro com Cristo. Cada vez que nos aproximamos de Deus percebemos o quanto custa caro trocar seus valores estéticos pelos valores estéticos do mundo, o quanto pesa tanto ir contra seus conselhos. Fico triste em ver tanta gente com tanto peso sobre os ombros, com tanta coisa para carregar. Para nós, cristãos, fica a responsabilidade de mostrar as palavras de Jesus: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e achareis descanso para as vossas almas”. Acho que Emily Brontë resumiu a minha posição atual nessa questão, ao finalizar seu poema Remembrance:
‘…How could I seek the empty world again?”

Ismael Patriota 

sábado, 5 de junho de 2010

Diário semanal de Lucas 1. 21-23

"O povo estava esperando Zacarias e admirava-se de que tanto se demorasse no santuário. Mas, saindo ele, não lhes podia falar; então, entenderam que tivera uma visão no santuário. E expressava-se por acenos e permanecia mudo. Sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para casa."

Temos um final parcial aqui. O que está prestes a começar, depois do verso 25 é a história do nascimento de Cristo. Antes Lucas faz questão de finalizar parcialmente tanto Zacarias como depois a sua esposa, Isabel. Mas como disse, esse é apenas um final parcial, pois depois estes personagens irão nos aparecer novamente. Pois bem, e como esta história termina aqui? Zacarias voltou para casa, mas numa situação inusitada: não podia falar. Imagine só! O que Deus tinha dado a Zacarias não foi um castigo. Num primeiro momento nossa impressão é que Zacarias foi punido e de certa forma foi sim, mas num segundo momento podemos, pelo menos eu tenho a idéia, de que Zacarias recebeu algo de Deus. Ele recebeu muito tempo para pensar. Deus não castiga só para nos ver sofrer. Deus não é como muitos de nós, que se alegra com o sofrimento alheio, principalmente porque nada do que é humano é indiferente para Deus. Somos seus filhos e como vimos, Zacarias precisava aprender um degrau a mais na fé cristã e podemos dizer que este tempo de reflexão ajudaria muito. Aqueles que sempre podem se comunicar verbalmente têm apenas um vislumbre daquilo que Zacarias experimentou. Vislumbre porque a experiência de não poder falar é raro, mas às vezes acontece e quando isso ocorre com a gente, ficamos apenas alguns dias. Zacarias ficou meses, já que sua mulher não estava grávida ainda. Ele só falaria novamente no oitavo dia depois que João nasceu. 

Porém eu disse vislumbre porque podemos experimentar essa dádiva de Deus em alguns momentos. Sabe aquele filme que assistimos no cinema e que no final, as luzes se acendem novamente e nós simplesmente não falamos? Comentamos sim sobre os personagens, sobre as paisagens, sobre se o final foi bom ou não, mas interiormente sabemos que o que mais importou na seção não foram esses detalhes? Pois bem, este é apenas um vislumbre também porque interiormente chegamos à conclusão que não podemos falar sobre isso. As palavras, como diz, Baruque, não podem expressar tudo o que sentimos em nosso coração, e mesmo as notas das canções não podem mostrar tudo o que levamos conosco depois do filme. Alguns gostam de reclamar por respostas, mas quem disse que elas importam? No final de Lost, muitas respostas não foram dadas e minha conclusão é que o final foi incrível! Ora, não ocorre o mesmo na vida cristã? Ou você acha que temos as respostas?! Cada vez mais que caminho, mais eu percebo que somos levados por fé e não por certezas. Sören Kiierkegaard já falava que é necessário um salto de fé (porque muios já creem (já viu aquelas pessoas que dizem que acreditam em Deus ou tem um lado espiritual forte, etc? Pois é, nada contra este lado espiritual,  mas o salto de fé requer coragem e é fruto de uma profunda inquietação)) e os autores de Lost também perceberam isto, de certa forma (não que estes autores sejam crentes, mas principalmente porque eles são humanos). 

Mas isso não é privilégio daqueles que vão ao cinema. Todo ser humano já teve alguma experiência assim, mas nós, cristãos, somos privilegiados porque podemos ter esse vislumbre de algo maior que as palavras, de algo que está por traz de tudo, também quando paramos de ler as escrituras e passamos e nos debruçar sobre ela. Deus nos faz pensar muito sobre nossas vidas, nossas atitudes, nossos valores, tudo enfim que nos define. È por isso que estou neste diário semanal de Lucas. Eu preciso parar pelo menos um dia na semana para refletir mais profundamente sobre a bíblia! A minha conclusão aqui é que o silêncio é imprescindível na nossa vida. Quando paramos de tentar obter repostas podemos finalmente desfrutar em paz de tudo aquilo que Deus tem para nós. Mais uma lição que Lucas nos deixa. Mais uma lição do nosso eterno pai. Amém!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Interlúdio - música cristã hoje


No artigo intitulado Música, de Mark Dever (editora fiel) o autor ataca a visão de adoração no culto como somente aquela feita com música. Para Mark, no culto, a adoração, como é feita pela igreja como um todo, deve ser corporativa, e por isso a principal forma de adoração é o ouvir a palavra de Deus. A partir daí, Mark traz alguns conselhos sobre o momento da música neste contexto.

Primeiro, as canções funcionam como credos devocionais. Lutero mesmo já utilizava as canções para a profissão de fé do povo de Deus (quem não lembra de Castelo forte?). Isso funciona perfeitamente pois é difícil lembrar-se da pregação do domingo retrasado, mas uma melodia é difícil de ser esquecida, principalmente se cantada regularmente.

Segundo, a individualidade emocional não é o mais importante. Para Mark, aqueles que mostram que a expressão final da adoração é uma experiência emocional privativa destroem o conceito de adoração corporativa, isto é, uma adoração congregacional. Eu concordo em parte com o Mark, pois, quer queira quer não, há sempre uma individualidade do adorador com Deus, o que, claro, deve ser pesado por quem adora. Certas liberdades devem ser respeitadas, principalmente para quem conduz a adoração.

Terceiro, as músicas devem ser teologicamente ricas. Isto é raro hoje em dia apesar de ainda vermos músicas de grande riqueza teológica. Eu diria ainda mais. Acho que riqueza teológica é o básico de uma adoração. Mas e a riqueza musical? Tem muitos grupos não cristãos que neste aspecto deixam muitos grupos de louvor no chinelo. Claro que a adoração corporativa não precisa de um aparato musical para acontecer, mas como músico, devo acrescentar que este é um aspecto importante, pois a adoração não deve nem pode acontecer de qualquer jeito. Afinal estamos adorando a Deus, a própria fonte da sabedoria.

Quarto, as músicas devem ser espiritualmente encorajadoras. Embora a nossa esperança está firmada no caráter de Deus e na verdade de seu evangelho, como diz Mark, uma parcela das músicas que ouvimos hoje em dia centraliza a esperança no próprio homem. Eu sou quem faço. Eu posso. Eu decreto! Nessa inversão de valores, descobrimos uma ironia: ao fingir adorar a Deus, o homem se auto-adora, se auto-promove, se auto-satisfaz. Por fim, acho que é importante discutirmos mais este assunto, pois diz respeito a toda a igreja cristã. A adoração congregacional, como diz Mark, não é tão importante quanto o ouvir a palavra, mas ela, como já se sabe, permanece conosco durante os dias, durante as semanas, os anos, a vida e por fim nos acompanhará na eternidade.

ELEGY TO THE MEMORY OF AN UNFORTUNATE LADY





What beckoning ghost, along the moonlight shade
Invites my steps, and points to yonder glade?
'Tis she!--but why that bleeding bosom gored,
Why dimly gleams the visionary sword?
Oh, ever beauteous, ever friendly! tell,
Is it, in heaven, a crime to love too well?
To bear too tender, or too firm a heart,
To act a lover's or a Roman's part?
Is there no bright reversion in the sky,
For those who greatly think, or bravely die?            

Why bade ye else, ye Powers! her soul aspire
Above the vulgar flight of low desire?
Ambition first sprung from your blest abodes;
The glorious fault of angels and of gods:
Thence to their images on earth it flows,
And in the breasts of kings and heroes glows.
Most souls, 'tis true, but peep out once an age,
Dull, sullen prisoners in the body's cage:
Dim lights of life, that burn a length of years
Useless, unseen, as lamps in sepulchres;                
Like Eastern kings a lazy state they keep,
And, close confined to their own palace, sleep.

From these perhaps (ere Nature bade her die)
Fate snatch'd her early to the pitying sky.
As into air the purer spirits flow,
And separate from their kindred dregs below;
So flew the soul to its congenial place,
Nor left one virtue to redeem her race.

But thou, false guardian of a charge too good,
Thou, mean deserter of thy brother's blood!              
See on these ruby lips the trembling breath,
These cheeks, now fading at the blast of death;
Cold is that breast which warm'd the world before,
And those love-darting eyes must roll no more.
Thus, if Eternal Justice rules the ball,
Thus shall your wives, and thus your children fall:
On all the line a sudden vengeance waits,
And frequent hearses shall besiege your gates.
There passengers shall stand, and pointing say,
(While the long funerals blacken all the way)           
'Lo, these were they, whose souls the Furies steel'd,
And cursed with hearts unknowing how to yield.'
Thus unlamented pass the proud away,
The gaze of fools, and pageant of a day!
So perish all, whose breast ne'er learn'd to glow
For others' good, or melt at others' woe.

What can atone (O ever-injured Shade!)
Thy fate unpitied, and thy rites unpaid?
No friend's complaint, no kind domestic tear
Pleased thy pale ghost, or graced thy mournful bier,     
By foreign hands thy dying eyes were closed,
By foreign hands thy decent limbs composed,
By foreign hands thy humble grave adorn'd,
By strangers honour'd, and by strangers mourn'd!
What, though no friends in sable weeds appear,
Grieve for an hour, perhaps, then mourn a year,
And bear about the mockery of woe
To midnight dances, and the public show?
What, though no weeping loves thy ashes grace,
Nor polish'd marble emulate thy face?                   
What, though no sacred earth allow thee room,
Nor hallow'd dirge be mutter'd o'er thy tomb?
Yet shall thy grave with rising flowers be dress'd,
And the green turf lie lightly on thy breast:
There shall the morn her earliest tears bestow,
There the first roses of the year shall blow;
While angels with their silver wings o'ershade
The ground, now sacred by thy relics made.

So peaceful rests, without a stone, a name,
What once had beauty, titles, wealth, and fame.          
How loved, how honour'd once, avails thee not,
To whom related, or by whom begot;
A heap of dust alone remains of thee,
'Tis all thou art, and all the proud shall be!

Poets themselves must fall, like those they sung,
Deaf the praised ear, and mute the tuneful tongue.
Even he, whose soul now melts in mournful lays,
Shall shortly want the generous tear he pays;
Then from his closing eyes thy form shall part,
And the last pang shall tear thee from his heart;        
Life's idle business at one gasp be o'er,
The Muse forgot, and thou beloved no more!

De Alexander Pope. Publicado em 1717.

domingo, 16 de maio de 2010

No coward soul is mine





No coward soul is mine,
No trembler in the world’s storm-troubled sphere:
I see Heaven’s glories shine,
And faith shines equal, arming me from fear.
O God within my breast,
Almighty, ever-present Deity!
Life that in me has rest,
As I undying Life have power in thee!
Vain are the thousand creeds
That move men’s hearts: unutterably vain;
Worthless as withered weeds,
Or idle froth amid the boundless main,
To waken doubt in one
Holding so fast by thine infinity;
So surely anchored on
The steadfast rock of immortality.
With wide-embracing love
Thy spirit animates eternal years,
Pervades and broods above,
Changes, sustains, dissolves, creates, and rears.
Though earth and man were gone,
And suns and universes ceased to be,
And thou were left alone,
Every existence would exist in thee.
There is not room for Death,
Nor atom that his might could render void:
Thou thou art Being and Breath,
And what thou art may never be destroyed.


Emily Brontë em 2 de Janeiro de 1846.

sábado, 15 de maio de 2010

To a Wreath of Snow


Ó transient voyager of heaven!
Ó silent sign of winter skies!
What adverse wind thy sail has driven
To dungeons where a prisoner lies?
Methinks the hands that shut the sun
So sternly from this morning brow
Might still their rebel task have done
And checked a thing so frail as thou
They would have done it had they known
The talisman that dwelt in thee,
For all the suns that ever shone
Have never been so kind to me!
For many a week, and many a day
My heart was weighed with sinking gloom
When morning rose in mourning grey
And faintly lit my prison room
But angel like, when I awoke,
Thy silvery form so soft and fair
Shining through darkness, sweetly spoke
Of cloudy skies and mountains bare
The dearest to a mountaineer
Who, all life long has loved the snow
That crowned her native summits drear,
Better, than greenest plains below –
And voiceless, soulless messenger
Thy presence waked a thrilling tone
That comforts me while thou art here
And will sustain when thou art gone.
Emily Brontë.

Diário semanal de Lucas 1. 18-20

"Então perguntou Zacarias ao anjo: como saberei isto? Pois eu sou velho, e minha mulher, avançada em dias. Respondeu-lhe o anjo: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para falar-te e trazer-te essas boas novas. Todavia, ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas venham a realizar-se; porquanto não acreditaste nas minhas palavras, as quais, a seu tempo, se cumprirão"

Há muitas coisas que podemos ver por aqui e eu quero começar pela principal delas pra mim: A sinceridade de Zacarias.Nem a presença de um anjo e todo o medo que ele sentiu o convenceu de uma mudança na sua vida.. Depois de tudo o que o anjo lhe falou ele não tinha sido convencido e olhava para ele mesmo com incredulidade, pessimismo. Certa vez Emily Brontë escreveu para a neve:  
Ó transient voyager of Heaven!
Ó silent sign of winter skies!
What adverse wind thy sail has driven
To dungeons where a prisioner lies...

Eu vejo essa passagem de Emily como esta de Zacarias. Toda incapacidade, fragilidade, medo e desespero humano se encontra em sua súplica: Como? Como saberei disto? Esse tipo de sinceridade chega quando nos falta forças. Lutamos tanto, perseguimos tanto e depois que tudo mina nossa alegria e nossas esperanças só nos resta senão descrermos, mesmo com um anjo em nossa frente. Não quero ser pessimista aqui, mas quem nunca passou por momentos assim?Jó aguentou alguns capítulos, mas depois, parafraseando, diria ele a Deus na beira da loucura e em profundo desespero: És por acaso homem? Conheces o que significa ser humano?Yancey disse que Jesus veio também para responder a essa pergunta...

Uma coisa eu sei e Lucas deixa bem claro quando continua com seu texto: Eu sou Gabriel! Perceba que só agora nos é revelado o nome do anjo. Gabriel significa homem de Deus. Ao dizer isso nesse momento, nos fica claro a preferência que temos. Primeiro, sempre (teoricamente) podemos contar com seus homens, sejam eles anjos ou não. Segundo, eles assistem diante do próprio Deus, isto é, sabem muito bem a nossa situação; terceiro, eles são enviados ao nosso favor, para trazer boas novas às nossas vidas. Note que o Gabriel não alimenta os sentimentos de Zacarias, mas também não o reprova, se assim podemos dizer. Mais importante que isso é o plano de Deus. Por não compreender isso agora, Zacarias ficaria mudo até que visse com seus próprios olhos...

Agora, cá entre nós. Quem ousaria culpar Zacarias? claro que vão surgir aqueles que diriam da falta de fé, que usariam esse personagem para promover a febre do cristianismo simplista que vemos hoje, como se a vida real fosse um conto de fadas. Mas eles ignoram a realidade daqui e a realidade de uma vida cristã autentica. Eu comecei com o lado negro da história porque é assim que as coisas são. Nús, nós só temos a opção de enxergar a realidade. Os cristãos sabem que a vida com Cristo pode enlouquecer qualquer um. Ela nos faz "ver a morte sem chorar", como diz a letra; nos leva ao limite do monte e quando finalmente chegamos lá, em plena exaustão, nos pede um salto de fé que seria impossível para qualquer humano (sim, há certos momentos em que simplesmente não dá). Ela nos leva à beira do colapso interior, uma exigência de fé superior ao que podemos dar. Sim, uma fé além do desespero, da morte, das angustias de alma, que chega até mesmo a parecer loucura. O que me vem à mente quando eu toco num assunto tão crucial como esse é a realidade das crianças. Elas tem de ser tornar adultas mas não poderão chegar lá senão sofrerem.Não existe esse tal dia em que ela diz: sou um adulto. Não, ela olha para tráz e percebe que cresceu. Ao meu ver, a questão não é se Zacarias estava errado ou incrédulo. Ele somente não estava preparado. Ele precisava aprender algo mais e aqui nós o vemos sofrer essa mudança tão necessária. Mais tarde, já mudado, mais forte, ele louvaria a Deus por Jesus. Assim também acontece conosco. Eu gostaria que nossa vida fosse melhor, mas assim jamais chegaríamos perto de nosso Senhor. No final nós todos reconheceremos o quanto foi importante se esforçar para sair do casulo e finalmente voar. No final todos nós o louvaremos também por essa obra que mexe tanto conosco. Não recusemos esse ensino. No início ele pode parecer até injusto, mas sempre há uma imensa alegria no final. Amém!


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Diário semanal de Lucas 1 versos 15-17


"Ele será grande diante do Senhor. Não beberá vinho nem licor e desde o ventre de sua mãe estará cheio do Espírito Santo. Reconduzirá muitos israelitas para o Senhor, seu Deus. Caminhará diante dele no Espírito e no poder de Elias para reconduzir os corações dos pais para os filhos e os rebeldes para a sabedoria dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo bem disposto"

As qualidades de João são imensas. Se eu fosse enumerar e comparar com a de Jesus, mais na frente, João ganharia. Mais tarde Jesus diria que João é o maior dentre os nascidos de mulher (Lc 7.28) mas Lucas nos conta que o propósito de todas estas qualidades e virtudes é apenas um: serviço. Sim, serviço. João prepararia o caminho de Cristo, anunciando no deserto o arrependimento e uma mudança de vida. João serviria a Deus através de seu ministério. Veja como Lucas destaca as qualidades justamente para colocá-las a serviço do propósito, do plano de Deus. Não é o engrandecimento humano. Não é a formação de uma raça superior. Não é o exclusivismo e elitismo religioso. Não. O propósito daquilo que Deus deu para João foi o de servir.

E aqui entramos no calo de muitos cristãos. Tem muita gente dizendo ter muita coisa, menos o "dom" do serviço. O problema é que o serviço não é um dom. Claro que existem ministérios de serviço, mas não é o caso aqui. Estamos falando em qualidades que Deus nos dá. Devemos usar, segundo Lucas, como instrumento de Deus para o reino. Tanta gente que sabe fazer tanta coisa por ai, mas separa as coisas de Deus e as coisas do mundo e acaba fechado em si mesmo (ou acaba seguindo um e deixando o outro). Eis um ponto interessante de se falar hoje em dia. O evangelho que se propaga hoje é o das bênçãos. Não se fala em serviço. Se fala em ganhar, lucrar, ficar rico ou no outro extremo, de sentir, adorar, chorar, uivar, gritar, cair, sapatear...etc.  

Por que você acha que a primeira qualidade que Deus coloca é justamente que João seria um grande homem? Ora, ser grande aos olhos de Deus não tem nada a ver com riquezas. João viveria no deserto comendo mel de abelha! Não tem nada a ver com provar os prazeres que o mundo pode oferecer: João não beberia nem sequer vinho!Não, ser grande diante de Deus é cumprir o propósito, estar a um serviço maior, à disposição de Deus. Veja, o final de João não foi feliz (ele foi decapitado). O final de Cristo não foi feliz (foi crucificado). O final dos discípulos não foi feliz (alguns foram cerrados ao meio, outros mortos à espada, outros crucificados, etc). E o final de muitos cristãos até hoje, não é feliz. O propósito de Deus não tem nada a ver com o mundo apesar de ter tudo a ver com ele. Deus claramente coloca seus servos para trazer luz, sal, às trevas que dominam esse planeta. O propósito de Deus, claramente e verdadeiramente falando, não é a nossa felicidade porque Deus não está ao nosso serviço! C.S.Lewis já disse que Deus não nos fez para a felicidade "para não pensarmos que ela pode estar na próxima esquina. Mas Ele nos fez para o amor, porque podemos amar aqui e agora". Lucas diz que Deus não nos fez para a felicidade para que não pensemos que Ele tem de nos fazer felizes, haja o que houver. Para nossa informação, há muitos cristãos agora que estão presos. Outros não podem nem ler a bíblia. Há lugares em que cristãos são fuzilados ou mortos banalmente. Há povos que odeiam e matam sem piedade qualquer um que se diga cristão. Mas claro, não vamos sair por ai dizendo que os cristãos são uns infelizes.  Seria um erro tentarmos viver como João porque não somos ele. Cada um de nós é tratado por Deus de forma diferente e só conversando com Ele saberemos como podemos ser úteis ao seu propósito. O que Lucas deixa claro aqui é o serviço a Deus, que deve estar acima dos nossos desejos egoístas. Para não ficar nas palavras dele, mais tarde Jesus diria que mais importante é buscar o reino de Deus e a sua justiça e o resto nos será acrescentado.

Agora, vamos para de infantilidade e enxergar nossas vidas. Estamos servindo? Elas mostram Deus ao mundo? Nossas vidas falam de Deus ou falam de nós mesmos? Estas são apenas algumas questões para pensarmos e mudarmos junto com Teófilo. Ao mostrar o exemplo de João, Lucas que abrir os nossos olhos para tantos propósitos banais pelas quais alguns cristãos vivem. O nosso dever é trocar os nossos por outros, maiores, melhores, vindos do alto e voltados para o céu. Amém.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Diário semanal de Lucas 1 versos 12 ao 14

"Ao vê-lo, Zacarias se perturbou e teve medo. Mas o anjo lhe disse: não tenhas medo, Zacarias, porque foi ouvida tua oração. Isabel, tua mulher, vai te dar um filho a quem darás o nome de João. Ficarás alegre e muito feliz e muitos se alegrarão com seu nascimento."


Das lágrimas à alegria. Pra mim, sintetiza muito bem esse pequeno trecho de Lucas. Temos muitas emoções ocorrendo aqui e eu queria dar atenção hoje a duas. Primeiro o medo de Zacarias. Nesses tempos eu tenho aprendido que Deus não nos deixa confortáveis em matéria de emoção. Aliás o desconforto é próprio do cristianismo. Há sempre tribulações, lutas, perseguições, problemas familiares, conjugais, espirituais, etc. Há sempre inquietações. Alguém mesmo já disse que nossa paz é uma paz inquieta. Certamente Zacarias derramou muitas lágrimas por sua mulher, por um filho, antes de chegar neste ponto. Sim, Deus não o poupou disso. E é certo que Ele também não nos poupa. Porque no mundo tereis aflições, disse Jesus certa vez. Quantas vezes não choramos tanto ou até mesmo acordamos em meio a lágrimas. Essa é uma razão que me fez um apaixonado pelo cinema. Somos você e eu alí. Somos nós como seres humanos a cada take. Acho que justamente por isso Deus não nos poupa dos problemas e das lágrimas: são eles que nos levam a dobrar os joelhos e a reconhecermos que precisamos tanto dEle. Zacarias teve medo aqui. Mas  certamente não um medo comum. Em Lost, no episódio piloto, quando Kate costura o ferimento de Jack, ele conta para ela a respeito de uma cirurgia em que estava operando a coluna de uma adolescente quando de repente cometeu um erro grave. Jack então diz a Kate: O medo era tão real! Outro exemplo: lembra do velho testamento quando o povo implorou a Moisés que somente ele tratasse com Deus por causa do medo que forte presença do Todo poderoso causou? É basicamente esse medo que Zacarias sente aqui. Mais que um medo natural, é um medo do sobrenatural, do desconhecido, do que está além da compreensão humana.

Já que estamos abordando a vida e a jornada cristã desde o primeiro verso de Lucas,  o primeiro ponto que acho relevante é justamente esse: Algumas vezes em nossa jornada nos depararemos com essa força, esse explendor que impõe por si só um respeito. Veja, isso é um tipo de situação que enfrentamos em nossa jornada, causada pelo próprio Deus para nos dar um vislumbre daquilo que será. O caminho cristão não é monótono, mas cheio de emoções fortes, que realmente abalam nossa estrutura de seres humanos. Acredite, Deus é sempre capaz de nos fazer tremer de medo de vez em quando... 

Mas eu não gostaria de parar por aqui. O anjo continua e aí nós enxugamos nossas lágrimas mais uma vez. Os céus se abrem diante de nossos olhos e vemos terra à vista depois de tanto tempo na tempestade. Quantas vezes não acordamos chorando não é? Mas também podemos chorar de felicidade, não? Se você já experimentou essa sensação sabe que é indescritível. O anjo nos aponta para a alegria não para uma conjectura. Observe a ênfase: ficarás alegre e muito feliz e muitos se alegrarão...

Quando preguei em Ap. 21.1 eu fiz essa pergunta que não quer calar quando iniciamos uma jornada cristã: você realmente acha que Deus não é capaz de nos fazer feliz? Se Ele ao próprio filho não poupou, também não nos daria a felicidade? Certamente que sim. Aliás Ele é o único capaz disso.  Claro que a felicidade cristã não é algo. Não fomos chamados para sermos felizes, como disse C.S.lewis. A felicidade é como se vai, já disse outro alguém. Certamente Deus é capaz de nos surpreender, de fazer mais daquilo que pedimos ou pensamos, de nos dar vida plena em meio a tantas emoções intensas e de nos completar inteiramente. Sim, Deus não é carrasco. Quantas vezes pensamos assim, mas somos nós mesmos que causamos nosso mal. Somos nós os que trememos de medo da morte por que sabemos quem somos e de quanto precisamos dele naquela hora. Quantas vezes eu me peguei chamando Deus de carrasco. Quantas vezes eu o perguntei se era isso que Ele queria. Não, Deus não sorriu quando a pequena Isabella caiu do sexto andar naquela fatídica noite. Não Blake, Deus não sorri quando vê o Leão estraçalhar a ovelha....

Há muitas perguntas sem resposta aqui, mas uma coisa é certa: há alegria no final. E não só a nossa. A de muitos. Voltaremos ao lar, chegaremos ao porto seguro um dia. Como diz aquela música: ao ouvir a sua meiga voz, minh'alma acordará em suas mãos...amém.

sábado, 24 de abril de 2010

Ode on solitude


    • Happy the man whose wish and care
    • A few paternal acres bound,
    • Content to breathe his native air
    • In his own ground.
    • Whose herds with milk, whose fields with bread,
    • Whose flocks supply him with attire,
    • Whose trees in summer yield him shade,
    • In winter fire.
    • Bless’d who can unconcern’dly find
    • Hours, days, and years slide soft away,
    • In health of body, peace of mind,
    • Quiet by day;
    • Sound sleep by night: study and ease
    • Together mix’d; sweet recreation;
    • And innocence, which most does please,
    • With meditation.
    • Thus let me live, unseen, unknown,
    • Thus unlamented let me die;
    • Steal from the world, and not a stone
    • Tell where I lie.
  •    Alexander Pope, aos 12 anos. ano 1700.

domingo, 18 de abril de 2010

Diário semanal de Lucas 1 versos 8 ao 11

"No exercício de suas funções sacerdotais diante de Deus, na ordem de sua turma, coube-lhe por sorte, segundo o costume entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor para oferecer o incenso. Toda multidão do povo estava orando do lado de fora enquanto se oferecia o incenso. Então apareceu-lhe um anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso."

Primeiro, pra mim, é impossível separar o verso 11 dos outros três. Por isso, incluí ele aqui. O primeiro ponto óbvio do texto é que Deus conhece nossa vida e está presente, com anjo ou sem anjo. Não somos pessoas isoladas, largadas no mundo como ensinam alguns, mas profundamente marcadas e alteradas, se assim posso dizer, por essa pessoa tão singular a quem chamamos de Deus.É profundamente alentador o fato do criador não abandonar sua criação. Teófilo com certeza pensou nisso ao ler esse pequeno trecho. 

Bom, na entrada do anjo, fica claro que Lucas não quer dar um clima de surpresa. O texto fala simplesmente que: E então apareceu-lhe o anjo do Senhor...o anjo não quer dar um susto a Zacarias, nem lucas quer nos assustar também. Pra mim, isso indica que o anjo estava alí há tempo, como uma presença preciosa e ao mesmo tempo tão singular, embora afastada de Deus ( o anjo é representante dele). E aqui, no segundo ponto, Deus não é aquele procurando ver alguém alegre pra acabar com a alegria, como um menino disse certa vez, de acordo com C.S.Lewis. Mas é alguém que participa, que está presente, que conhece nossas orações, como mais tarde Zacarias iria saber. Deus é aquele que conhece inteiramente nossa caminhada;nossos sonhos e fracassos, desejos e impossibilidades. Ele sabe tudo e mais um pouco...algo interessante que completa ainda mais essa interpretação é que o anjo aparece à direita do altar do incenso. Não sei você, mas eu imagino adorando a Deus com um teclado na igreja e de repente Ele aparece na minha frente. O propósito é justamente  isso. Mostrar que sua presença é real, que não adoramos a alguém imaginário. ou ausente No caso de Zacarias, que também ele não orava a alguma força indiferente. Sim, Deus não é indiferente! Nossa, que bom saber disso! Não somente Deus está presente, mas Ele também se importa conosco, se importa em mostrar que nosso trabalho não é vão. Veja que Zacarias estava cumprindo suas funções no reino. Ele não estava em algum show de adoração para pedir respostas, até por que não tinha isso naquele tempo, graças a Deus. Como eu falei no comentário anterior, ele estava trabalhando, dando duro e indo em frente! Isso sim, faz diferença Existe até um ditado que diz que Deus não chama desocupados! Isso é verdade. tem muita gente colocando o carro na frente dos bois, mas isto nós já comentamos. o que quero destacar é que Zacarias não precisou disso. O anjo iria lhe falar estando ele com sorte ou não. Lembre-se que para José, um sonho bastou. 

Mas ainda há um terceiro ponto. Percebeu que Lucas destaca o fato da multidão estar do lado de fora? Pra mim, ele não quer desprezar o povo, como se eles não fossem participantes do projeto de Deus. Ao contrário! Pra mim, ele menciona o povo de propósito justamente para destacar o aspecto pessoal do relacionamento que todo cristão tem com seu Deus. Até porque mais tarde a multidão saberia que Zacarias tivera uma visão! Veja, ela, a multidão, não fica de fora!Aliás, Deus nunca deixou a multidão de fora. Desde o V.Testamento o Santíssimo fala por meio de profetas ao povo. Ainda mais agora com Cristo. O recado é para toda a humanidade. Seja você e eu um conhecido sacerdote com alguns privilégios ou apenas mais um na multidão. Deus está presente tanto individualmente como engloba em seus planos o coletivamente. Veja como é o cristianismo que Lucas quer ensinar a Teófilo! Podemos sempre contar com nosso pai, mesmo que não vejamos sua mão ou sintamos seu poder. Ele está presente, nos ajudando, se importando e mudando as nossas vidas para sempre!Amém!

domingo, 11 de abril de 2010

Diário semanal de Lucas 1 versos 5-7

"No tempo do Rei Herodes, Rei da Judéia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da turma de Abias. Sua mulher, descendente de Aarão, chamava-se Isabel (no original e no inglês, Elisabete) Ambos eram justos diante de Deus e viviam irrepreensíveis em todos os mandamentos e ordens do Senhor. Mas não tinham filhos, pois Isabel  era estéril e ambos eram de idade avançada"

Sempre esta palavra. Sempre ela aparece em qualquer história humana.. O antigo Testamento está cheio dela. Deus cria o homem mas ele peca. O homem tenta chegar até o céu mas é confundido e espalhado pela variedade de línguas. Ló consegue escapar do castigo de Deus a Sodoma mas sua esposa não. Davi foi um homem segundo o coração de Deus mas mandou para a morte o marido da mulher que ele queria. E assim eu poderia falar horas e horas sobre estes mas que todos nós enfrentamos ou causamos. Pra mim o termo kai foi muito bem traduzido por mas aqui. Porém poderíamos dizer: E não tinham filhos...

Pois bem, Lucas introduz dois personagens para contar sua história de Cristo e é interessante ver como ele difere dos outros evangelhos no início da narrativa. Os três outros começam já falando da história de Cristo. Mateus de sua descendência, João de que ele era o verbo, Marcos com o cumprimento da profecia de Isaías. Mas Lucas começa com esses dois personagens. Responda rápido: são eles importantes pra você? Vamos ver. Lucas parece falar de dois personagens que vivem num conto de fadas - Zacarias era sacerdote, pessoa importante. Isabel, descendente do próprio Aarão do V.Testamento. Para completar, ambos eram justos diante de Deus. Parece perfeito, mas não é. Algo importantíssimo estava faltando. Aliás, algo sempre falta...eles não tinham filhos e eram avançados na idade. Sabe, pra mim é interessantíssimo o fato da bíblia dar destaque à incapacidade do homem, de tantas frustrações, de histórias puramente humanas, onde vemos claramente vidas tão frágeis, que lutam mas que precisam da intervenção de Deus. Pegue qualquer tempo da história humana e você verá que sempre Deus agiu. Aqui não vai ser diferente. Mas antes, temos esta situação aparentemente sem solução. Não é à toa que Zacarias duvidaria que seria pai. Eram velhos! Não existia UTI nem cesariana para diminuir o risco da gravidez de Isabel. Não havia aparelhos médicos. A própria medicina estava apenas engatinhando. Lucas trata logo de dizer isso porque logicamente ele não está contando um conto de fadas aqui mas uma história humana, real. Não temos sonhos fúteis, mas primordiais (não ter filhos na sociedade da época era terrível para uma mulher como Isabel, descendente do Aarão). Ah, um filho era muito importante para eles, com certeza, mas estavam velhos e por que arriscar a vida de Isabel agora, na velhice? Também não temos pessoas ricas aqui. Só Herodes, que depois ficaria conhecido por sua loucura. Não vemos nada fantasioso ou grandioso no começo desta história. Não temos estrelinhas no céu guiando, ou anjos falando. Não, não ainda. Percebeu?. Lucas parece preparar a história, a chegada do messias, a intervenção divina e o leitor com dois personagens humildes. Sim, gente humilde, como aquela antiga canção da MPB. Lucas dá destaque à vida espiritual deles, mas quero dar destaque hoje à parte física, humana. Eu faço questão de entrar no ambiente físico porque para o leitor de Lucas isso não é surpreendente, mas faz toda diferença hoje. Quer saber como? Quantos de nós já paramos pra pensar na vida destes dois personagens quando iniciamos a leitura de Lucas? Poucos, com certeza, e eu me incluo aqui. Só nestes tempos em que estive meditando sobre este texto é que me dei conta do quão importante eles são. 

Estamos tão acostumados com um evangelho consumista que a maioria de nós passa por cima destes dois personagens sem perceber, julgando-os desnecessários, sem importância. Acho que isto precisa ser revisto. Precisamos aprender um pouco mais sobre viver como cristão. Digo viver em todos os sentidos humanos - não egoístas - que este verbo implica. Aqui não há campanhas de oração nem sensacionalismo. Precisamos  parar com muitas coisas de hoje em dia que solapam o verdadeiro evangelho e uma autêntica vida cristã. Por exemplo, vamos começar com esta história de que somos especiais. OK, somos escolhidos sim, mas isto tem uma conotação horrível hoje em dia: somos escolhidos: vamos nos afastar da mediocridade! Esta terrível lógica esteve presente em todas as épocas em vários grupos religiosos que buscaram fugir do mundo para não se contaminar, não se misturar à chamada massa. Vamos parar com isso! Vamos parar com este evangelho elitisado, cheio de pessoas especiais que vivem num conto de fadas. Precisamos fugir das reuniões de oração! e nada de ficar chocados irmãos. O fato é que tem cristãos que oram de mais e vivem de menos. Vamos encarar a realidade. Vamos encarar, literalmente, a nossa realidade. A realidade à nossa volta, a realidade do mundo. Precisamos de outros ares que não o sufocante encontro ritualista dos nossos dias. Vamos ter outros amigos, ler outros livros; ver outros filmes, ouvir outras músicas (no final tem uma sugestão pra você); sair enfim dos nossos mesmos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares, como disse o poeta e como Matrix mostrou no episódio 1. Precisamos aprender a chorar por um amor não correspondido em vez de tentar justificar dizendo que não era a vontade de Deus. A chorar por tantos desabrigados, carentes, sem teto, sem família, sem nada; ou mesmo pelos ricos que governam nosso país. Precisamos ser mais solidários com a realidade do nosso mundo; seus problemas, suas necessidades. Cadê a igreja, que não se pronuncia? Cadê a gente, que não faz diferença, que não ilumina, mas vive fechado nos templos de ar-condicionado e cadeiras confortáveis. Ah, estamos tão fechados em nós mesmos também. Não queremos nos ferir, não queremos sair da zona de conforto. Não queremos gastar nossos corpos, nossa pele que cuidamos tanto. Temos tantos sonhos não é? Somos tão jovens. temos medo de envelhecer, das responsabilidades, ou de qualquer coisa que exija mais daquilo que estamos acostumados a dar. 

Ah meus irmãos, estamos tão errados! Tão longe! Não é à toa que a bíblia fala e dá destaque às impossibilidades humanas. Faz parte da vida a incapacidade humana. A fragilidade do homem, as exigências cada vez maiores , a tomada de decisões tão importantes! Não recue! Não decida viver em fantasias. Para Lucas, Zacarias e Isabel estavam preparados. Mas observe: existiam outros preparados também! Nosso casal não é especial (eles se tornaram especiais!). Eles não são melhores que os outros. A própria mãe do Salvador saiu de um lugar de onde menos se esperava. A vida é cheia de más justamente por isso, para que a glória seja de Deus e não nossa. Para que Cristo apareça! E não é necessário ter algum poder ou falar a lingua dos anjos. Quem te falou que Deus procura homens poderosos? Não! Ele procura gente humilde. Ele procura pessoas sinceras como esse casal, que ora na esperança de uma intervenção divina. Mas que também tenta, com sinceridade, vencer os desafios da vida. Lucas, na sua preparação para a entrada do messias, nos mostra claramente que mais importante que reuniões de oração ou labaredas de fogo é uma vida sincera diante de Deus. Não poupemos nossos corações, ou nossos pés, ou nossos braços, ou nossa pele, nossa vida enfim! Já dizia a música do Gonzaguinha: 














Eu acredito
É na rapaziada
Que segue em frente
E segura o rojão
Eu ponho fé
É na fé da moçada
Que não foge da fera
E enfrenta o leão
Eu vou à luta
É com essa juventude
Que não corre da raia
À troco de nada
Eu vou no bloco
Dessa mocidade
Que não tá na saudade
E constrói
A manhã desejada...
Aquele que sabe que é negro
O coro da gente
E segura a batida da vida
O ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco
De um jogo tão duro
E apesar dos pesares
Ainda se orgulha
De ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim
Pede uma cerva gelada
E agita na mesa
Uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira
Suada da luta
E faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí...

Amém!