sexta-feira, 25 de junho de 2010

Interlúdio - uma rainha chamada Ester

A história de Ester se passa no contexto do reinado de Assuero. Quando Vasti se recusou a comparecer perante o Rei perante os seus convidados, terminou enforcada. Tempos depois se reuniriam em Susã as jovens que concorreriam ao cargo de Rainha. Ester, criada por Mordecai, estava entre elas. A bíblia diz que Ester foi a mais amada perante o Rei, dentre todas as mulheres.

Tempos depois ela ficaria sabendo por meio de Mordecai, de um plano secreto para matar Assuero. Ester iria dar a notícia pessoalmente ao Rei que tomaria as devidas providências. Mas a parte mais importante da história começa quando o Rei exalta Hamã acima de todos os príncipes, ao qual todos deveriam se prostrar. Como Mordecai não se prostrava, Hamã decide matar não somente ele, mas todo o povo judeu (Mordecai e Ester eram judeus). Ele consegue então uma ordem para aniquilar todo o povo judeu após mentir para o Rei, dizendo que eles se recusavam a obedecer as ordens reais e por isso deveriam ser aniquilados.

Após saber disto, Mordecai pede que Ester interceda perante o Rei pelo seu povo. Ester então entra com todo o povo judeu num jejum de três dias e depois se apresenta perante o Rei. Novamente encontrando graça perante ele, Ester o oferece um banquete juntamente com Hamã. Lá então o rei fica sabendo que Ester era judia e do plano arquitetado por Hamã. No final da história Hamã é enforcado e o povo judeu comemora até hoje a festa de Purim.

Após lermos o livro de Ester, percebemos que o agir de Deus permeou toda a história. Quem, a não ser Deus, poderia colocar Mordecai na hora e lugar exatos para ouvir do plano para matar o Rei, e assim, anos depois, livrá-lo da morte por meio do relato contado ao rei no dia exato que ele morreria? Quem, a não ser Deus, faria Ester achar graça perante todos, inclusive do rei, e assim interceder anos depois diante de Assuero pelo seu povo? Realmente não dorme nem dormita o guarda de Israel!

Porém devo ressaltar também o valor de Ester. Durante a leitura, fica a impressão de que ela é a protagonista de uma história importante O que quero dizer é que o autor do livro não quis exaltar o povo judeu. Pra mim, propositalmente a história se desenrola simples diante de nós, principalmente diante das atitudes de Ester: ela não precisa falar muito para cair na graça de todos, inclusive do Rei; ela se apresenta diante de Assuero (na primeira vez) sem os apetrechos que as outras candidatas usavam; todas as suas aparições nos livros são importantes e todas as suas falas não são fúteis - pelo contrário, são fundamentais para o desenrolar da história. Uma coisa que eu gostaria de destacar nela é a sua coragem. Sua beleza não a acomodou nem a tornou fútil. Ela se envolveu com questões importantes, soube valorizar uma beleza maior que a externa, mesmo não sabendo o que iria acontecer. Ester se torna então uma modelo exemplar: bonita por dentro e por fora. Uma mulher exemplar.


Ismael Patriota

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Um dia você aprende

Um dia você aprende
Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança ou proximidade. E começa aprender que beijos não são contratos, tampouco promessas de amor eterno. Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos radiantes, com a graça de um adulto – e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, pois o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, ao passo que o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol pode queimar se ficarmos expostos a ele durante muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe: algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferí-lo de vez em quando e, por isto, você precisa estar sempre disposto a perdoá-la.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva um certo tempo para construir confiança e apenas alguns segundos para destruí-la; e que você, em um instante, pode fazer coisas das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e que, de fato, os bons e verdadeiros amigos foram a nossa própria família que nos permitiu conhecer. Aprende que não temos que mudar de amigos: se compreendermos que os amigos mudam (assim como você), perceberá que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou até coisa alguma, tendo, assim mesmo, bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito cedo, ou muito depressa. Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que verdadeiramente amamos com palavras brandas, amorosas, pois cada instante que passa carrega a possibilidade de ser a última vez que as veremos; aprende que as circunstâncias e os ambientes possuem influência sobre nós, mas somente nós somos responsáveis por nós mesmos; começa a compreender que não se deve comparar-se com os outros, mas com o melhor que se pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se deseja tornar, e que o tempo é curto. Aprende que não importa até o ponto onde já chegamos, mas para onde estamos, de fato, indo – mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar servirá.

Aprende que: ou você controla seus atos e temperamento, ou acabará escravo de si mesmo, pois eles acabarão por controlá-lo; e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada ou frágil seja uma situação, sempre existem dois lados a serem considerados, ou analisados.

Aprende que heróis são pessoas que foram suficientemente corajosas para fazer o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências de seus atos. Aprende que paciência requer muita persistência e prática. Descobre que, algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, poderá ser uma das poucas que o ajudará a levantar-se. (…) Aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido: simplesmente o mundo não irá parar para que você possa consertá-lo. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, plante você mesmo seu jardim e decore sua alma – ao invés de esperar eternamente que alguém lhe traga flores. E você aprende que, realmente, tudo pode suportar; que realmente é forte e que pode ir muito mais longe – mesmo após ter pensado não ser capaz. E que realmente a vida tem seu valor, e, você, o seu próprio e inquestionável valor perante a vida.
                                                                                                                                                         Willian Shakespeare

sábado, 12 de junho de 2010

Interlúdio - O culto ao corpo

O texto da antropóloga Mirela Berger é ótimo. Quando terminamos, praticamente vemos diante de nossos olhos o retrato da nossa sociedade atual. A importância de estar fisicamente bem, a cobrança social, o apelo da mídia, as vitrines dos shoppings, a exposição do corpo, a influência da TV e dos amigos, até mesmo na competição por um trabalho, o corpo como bem de consumo, o enorme esforço individual requerido e até mesmo nosso clima tropical, tudo enfim que hoje causa no Brasil esse frenesi do culto ao corpo é muito bem concluído pela Mirela com o texto de José Rodrigues, do livro O corpo na história:

O indivíduo acaba por sentir em si o mal-estar silencioso derivado da talvez mais hermética das prisões, aquela que se constitui quando o homem passa a ser um carcereiro de si próprio, vivendo na ilusão de ser livre.”

Ao terminarmos o texto, vemos a grande diferença que Cristo faz à nossa sociedade atual. Veja que não é preciso ser cristão para perceber a prisão daqueles que cultuam o corpo hoje em dia. Quando fiz Filosofia da música na universidade, ficou claro também: há um grande problema com a sociedade atual. Nós, cristão sabemos o porquê. É interessante no texto o ritual ao qual se submetem aqueles que querem fazer parte desse mundo do culto ao corpo: primeiro tem de haver uma separação do indivíduo do grupo dos não malhadores, por exemplo. Depois, a transição do aprendizado das novas regras, novos hábitos de vida. E enfim, a consagração daquele que é agora um “malhador”. Aqui eu quero deixar bem claro que eu incentivo o cuidar do corpo, acho que é importante e que nada tenho (nem a bíblia tem) contra o viver bem e o estar bem. O problema é que isto virou um culto em nossa sociedade e o corpo agora é tratado como bem de consumo. O que constatamos com o texto de Mirela é que aqueles que entram nesse ritual colocam sobre si um enorme peso, uma carga que posteriormente vai custar caro.

Cristo nos livra dos pesos que a sociedade tenta impor, das ilusões que tantos alimentam. Ele nos livra desses conceitos perniciosos que nada instruem sobre a vida ou sobre Deus. As palavras e conceitos vazios felizmente não ilude alguém que teve um verdadeiro encontro com Cristo. Cada vez que nos aproximamos de Deus percebemos o quanto custa caro trocar seus valores estéticos pelos valores estéticos do mundo, o quanto pesa tanto ir contra seus conselhos. Fico triste em ver tanta gente com tanto peso sobre os ombros, com tanta coisa para carregar. Para nós, cristãos, fica a responsabilidade de mostrar as palavras de Jesus: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e achareis descanso para as vossas almas”. Acho que Emily Brontë resumiu a minha posição atual nessa questão, ao finalizar seu poema Remembrance:
‘…How could I seek the empty world again?”

Ismael Patriota 

sábado, 5 de junho de 2010

Diário semanal de Lucas 1. 21-23

"O povo estava esperando Zacarias e admirava-se de que tanto se demorasse no santuário. Mas, saindo ele, não lhes podia falar; então, entenderam que tivera uma visão no santuário. E expressava-se por acenos e permanecia mudo. Sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para casa."

Temos um final parcial aqui. O que está prestes a começar, depois do verso 25 é a história do nascimento de Cristo. Antes Lucas faz questão de finalizar parcialmente tanto Zacarias como depois a sua esposa, Isabel. Mas como disse, esse é apenas um final parcial, pois depois estes personagens irão nos aparecer novamente. Pois bem, e como esta história termina aqui? Zacarias voltou para casa, mas numa situação inusitada: não podia falar. Imagine só! O que Deus tinha dado a Zacarias não foi um castigo. Num primeiro momento nossa impressão é que Zacarias foi punido e de certa forma foi sim, mas num segundo momento podemos, pelo menos eu tenho a idéia, de que Zacarias recebeu algo de Deus. Ele recebeu muito tempo para pensar. Deus não castiga só para nos ver sofrer. Deus não é como muitos de nós, que se alegra com o sofrimento alheio, principalmente porque nada do que é humano é indiferente para Deus. Somos seus filhos e como vimos, Zacarias precisava aprender um degrau a mais na fé cristã e podemos dizer que este tempo de reflexão ajudaria muito. Aqueles que sempre podem se comunicar verbalmente têm apenas um vislumbre daquilo que Zacarias experimentou. Vislumbre porque a experiência de não poder falar é raro, mas às vezes acontece e quando isso ocorre com a gente, ficamos apenas alguns dias. Zacarias ficou meses, já que sua mulher não estava grávida ainda. Ele só falaria novamente no oitavo dia depois que João nasceu. 

Porém eu disse vislumbre porque podemos experimentar essa dádiva de Deus em alguns momentos. Sabe aquele filme que assistimos no cinema e que no final, as luzes se acendem novamente e nós simplesmente não falamos? Comentamos sim sobre os personagens, sobre as paisagens, sobre se o final foi bom ou não, mas interiormente sabemos que o que mais importou na seção não foram esses detalhes? Pois bem, este é apenas um vislumbre também porque interiormente chegamos à conclusão que não podemos falar sobre isso. As palavras, como diz, Baruque, não podem expressar tudo o que sentimos em nosso coração, e mesmo as notas das canções não podem mostrar tudo o que levamos conosco depois do filme. Alguns gostam de reclamar por respostas, mas quem disse que elas importam? No final de Lost, muitas respostas não foram dadas e minha conclusão é que o final foi incrível! Ora, não ocorre o mesmo na vida cristã? Ou você acha que temos as respostas?! Cada vez mais que caminho, mais eu percebo que somos levados por fé e não por certezas. Sören Kiierkegaard já falava que é necessário um salto de fé (porque muios já creem (já viu aquelas pessoas que dizem que acreditam em Deus ou tem um lado espiritual forte, etc? Pois é, nada contra este lado espiritual,  mas o salto de fé requer coragem e é fruto de uma profunda inquietação)) e os autores de Lost também perceberam isto, de certa forma (não que estes autores sejam crentes, mas principalmente porque eles são humanos). 

Mas isso não é privilégio daqueles que vão ao cinema. Todo ser humano já teve alguma experiência assim, mas nós, cristãos, somos privilegiados porque podemos ter esse vislumbre de algo maior que as palavras, de algo que está por traz de tudo, também quando paramos de ler as escrituras e passamos e nos debruçar sobre ela. Deus nos faz pensar muito sobre nossas vidas, nossas atitudes, nossos valores, tudo enfim que nos define. È por isso que estou neste diário semanal de Lucas. Eu preciso parar pelo menos um dia na semana para refletir mais profundamente sobre a bíblia! A minha conclusão aqui é que o silêncio é imprescindível na nossa vida. Quando paramos de tentar obter repostas podemos finalmente desfrutar em paz de tudo aquilo que Deus tem para nós. Mais uma lição que Lucas nos deixa. Mais uma lição do nosso eterno pai. Amém!