segunda-feira, 12 de novembro de 2012

sermão


Sermão em Ap. 21. 1,2
Por Ismael Patriota

Entregue à igreja Batista Calvário (Natal/RN, Brasil) em
17 de janeiro de 2010




        Dizem que o pregador não fala algo de novo. Ele só repete algo que foi dito de uma forma diferente. Pois bem, antes de tudo gostaria de falar um pouco sobre música. Um dos livros mais importantes lançados sobre música no século XX foi o Harmonia, de A. Schoenberg. Em sua introdução, o autor fala um pouco sobre a história da música e defende algo interessante: evolução musical. Seguindo a história da música, nós vemos que a maioria dos intervalos hoje utilizados eram proibidos antigamente. Eram proibidos não porque alguém quis assim, mas, segundo Schoenberg, porque os ouvidos humanos não estavam preparados para alguns intervalos. Conforme a música se desenvolveu, os intervalos considerados feios ou não-musicais foram lentamente sendo incorporados à música. Em resumo, os intervalos foram com o tempo sendo considerados bons para o ouvido musical do homem. Um exemplo disso é o intervalo de sétima maior, muito usado na MPB. Foi considerado durante séculos de música ocidental um intervalo “não-musical”, isto é, sonoramente desinteressante. Hoje é utilizado amplamente justamente para deixar a música mais “bonita“. Bom, o ponto que eu quero chegar nesta introdução parte desta ideia de evolução. Por evolução não quero dizer que o passado seja algo inferior, mas que existe uma dinâmica na história humana que parte do passado em direção sempre para frente. Assim como na música a incorporação de mais e mais intervalos enriquecem as possibilidades musicais, assim também ocorre com a história humana. O futuro sempre é resultado de uma série de fatores que se somam e dão num determinado lugar que então é somado a outros fatores ganhos e, posteriormente, culmina em um resultado maior, melhor.
                Agora veja, isso vale também para a história do homem. Com o discorrer dessa mensagem, quero que você tenha em mente essa idéia: a de que o presente nunca será igual ao futuro, mas dará passagem a ele, inevitavelmente. Agora vamos abrir nossas bíblias em Ap. 21. 1,2.
                A primeira coisa que eu quero chamar a sua atenção esta noite é o poder de Deus implícito no final de apocalipse. Aqui não há mais demônios, guerras, tumultos, pressa. Tudo transcorre a partir daqui, o capítulo 21, tranquilamente, como se há muito tempo tudo isso tivesse sido planejado. Quando lemos esses dois últimos capítulos, nós temos a impressão de uma força inabalável, um poder irresistível que de certo modo nós sabíamos que existia. Perceba que claramente João faz referência ao primeiro capítulo de Gênesis, o primeiro verso da bíblia: “no princípio criou Deus os céus e a terra”. Simples assim também começa nosso verso de hoje: “E vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe“. É bom lembrar que o mar foi criado depois, de Gênesis 1.1, o que corrobora a referência clara ao início de tudo. Nada poderia ser mais simples. Agora, você consegue perceber a tranqüilidade deste Ser, que nós o chamamos de Deus e que tem esse poder capaz de construir e reconstruir nossa terra tão cuidadosamente colocada no universo solar. Não só isso me assombra. Também o fato desta tranquilidade aparecer no final da história, como se o dia e a hora fossem conhecidos desde o início também me perturba. Parece e é uma tranquilidade inabalável. Para mim justifica plenamente aqueles versículos que lemos, como aquele em que Deus destruiria seus adversários apenas com o sopro da sua boca. É fantástico ver que este poder permanece o mesmo desde o início da criação. Este poder de Deus permanece intransponível, como aquele guerreiro que jamais perde uma batalha e que sempre sai vencedor, como já comentaram sobre a verdade. Todos os detalhes da vida animal, do movimento dos corpos celestes, das forças que sustentam o planeta, que dão harmonia ao nosso universo. Absolutamente não são forças que Deus tem de lutar para controlar. Não! são forças criadas por Ele. A bíblia fala que Deus mede o universo a palmos! E claro que sim: Ele o criou com a força do seu poder!

Eu creio que esse texto de apocalipse nos ajuda a entender uma primeira coisa: nós não conhecemos o poder de Deus. Existem alguns versículos da bíblia que apontam para isso. Um salmista já exclamava: Quem é o homem para que dele te lembres? E outro já dizia: ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Veja. Deus não é essa força, Ele é o ser que a detém. E realmente nós não conhecemos seu limite. Eu chego então à conclusão de que essa segunda criação surpreenderá a todos, será muito melhor que a primeira. João não dá detalhes deste novo céu e nova terra, mas uma das razões está lá em Romanos 8.21, que diz que a natureza aguarda a remissão do cativeiro da corrupção e no verso 22 que ela geme e suporta angústias até agora. Se a natureza é bela aos nossos olhos e existem tantos detalhes maravilhosos que ainda desconhecemos sobre ela, imagine como será essa natureza restaurada da maldição do pecado! Imagine o que Deus pode fazer diante dos nossos olhos após a derrota das forças do mal. Comparando o texto de Gênesis com este aqui, parece-me que Deus fez primeiramente um rabisco, um rascunho com esta primeira natureza aqui, diante da nova que Ele fará em Ap. 21. Se há uma coisa que Deus sempre fez foi nos surpreender, e uma surpresa sempre é algo novo, que nós não esperamos. É sempre algo melhor que nossas expectativas (uma boa surpresa). Eu tenho certeza que essa nova criação será infinitamente mais do que pedimos ou pensamos. Melhor do que sequer sonhamos.

                Agora veja o verso 2. Aqui é importante ressaltar que João vê uma cidade que representa a noiva de Cristo, que é reunida numa nova terra e um novo céu. Observe que no verso 9 um anjo diz que irá mostrar a noiva, a esposa do cordeiro e o que João vê, o que ele descreve com mais detalhes, é esta cidade, que segundo Charles Ryrie irá aparentemente pairar no céu e será a morada dos crentes na eternidade.[1] Voltando ao Velho Testamento, Jerusalém sempre foi descrita como o lugar de habitação de Deus, que reúne seu povo no templo. Assim, segundo Louis Berkhof[2], no N. Testamento a igreja é considerada a reprodução exata da Jerusalém antiga, tendo assim o mesmo nome. Então, Deus faz um novo céu e uma nova terra e agora a igreja desce dos céus, representada por esta cidade, como uma noiva adornada para seu esposo. João dá dois adjetivos aqui: santo e novo. É digno de nota que o adjetivo novo é usado pela terceira vez aqui. Temos um novo céu e uma nova terra, e agora uma nova igreja. Claro que João está vendo uma ‘nova’ Jerusalém, como cidade, mas já que aprendemos e sabemos que esta cidade representa a igreja, é realmente fascinante o significado que o termo assume, especialmente aqui.
                Vamos falar um pouco desta nova Jerusalém. Este termo é intimamente ligado à escatologia. Não somente aqui, nem porque nos lembra do novo céu e nova terra, onde habita a justiça, em 2 Pe 3.13, mas principalmente porque nos lembra do novo homem , ou melhor, do novo nascimento do homem ou de passagens como aquela do diálogo de Cristo e Nicodemos: É necessário nascer de novo! Era necessário ser um novo homem! Quem não se lembra do vinho novo? Especialmente dos odres. Eram necessários odres novos, porque o vinho novo em odres velhos iria rompe-los. Ou seja, quando Jesus esteve aqui ele pregou esta novidade (vinho novo) de vida como um patamar mais elevado, superior, aos homens como eu e você (que carregamos odres velhos). É preciso deixar as coisas bem claras aqui. Novo não é simplesmente evolução social ou moral. É uma obra de Deus. No próprio capítulo de Cristo e Nicodemos, vemos o termo nascer “do alto”. Perceba que a nova Jerusalém desce do alto, da parte de Deus. Temos aqui uma obra interior, uma mudança no interior do homem feita pelo próprio Deus. Não é apenas se tornar uma pessoa mais certinha, mas uma mudança de pensamento, de caráter, de vida, através do Espírito Santo, que convence o homem do pecado da justiça e do juízo. Você entende? Tem muita gente confundindo novo nascimento como novo divertimento. Saímos da diversão do mundo para a diversão de ser crente. Parece fascinante, e soa muito bonito, mas é uma mentira. Claro que os nascidos de novo crescem moralmente, mas isso é somente uma consequência de um novo pensamento de vida, da nova vida interior. Os ladrões pensam agora em trabalho, os imorais querem uma família, os covardes erguem a cabeça, os mentirosos abraçam a verdade.
É sempre assim. O novo nascimento é visível aos olhos, mas esse fator externo não exprime o tamanho desta nova vida, somente uma porcentagem. A obra de Deus no homem é imensa. Não ouse compará-la a um fator externo, ainda mais sabendo que esta é uma obra constante. Cristo a faz através do Espírito Santo por toda a nossa vida como um preparo para esse tempo do apocalipse capítulo 21. E todos nós o sabemos. O bebê que não quer sair do útero de sua mãe por achar mais aconchegante lá dentro acabará morrendo. A criança que se recusa a tomar decisões importantes nunca chegará a ser adulto. E aquele cristão que se acovarda diante da estrada certamente não completará a caminhada. Existem casos fáceis e existem os difíceis, mas todos passamos por provações. C. S Lewis disse uma vez que Deus sabe o carro em que dirigimos. Pode não ser um bom carro hoje, mas certamente Ele nos dará um novo (melhor) um dia. Deus sabe de nossas dificuldades, mas Ele fez questão de nos dizer que um dia uma nova Jerusalém surgirá nos céus do universo.

                Até lá, temos de dar o nosso melhor sempre tendo em mente esse novo passo para o homem. Sempre pra frente, sempre para melhor. Um passo a mais, uma entrega a mais, não desistindo da esperança da nova Jerusalém. Paulo já dizia que seríamos os mais miseráveis entre os homens se não levássemos em conta a eternidade. Que quando era criança, fazia as coisas de criança, mas que quando adulto, deixou de fazê-las.
Não busque motivos para defender este mundo, esta realidade temporária. Não há nada aqui. Esta criação está velha, sabe. Está idosa, caducando. Aquele que é nascido de novo sabe disso. Há realmente algo de errado com este mundo e é preciso, anote isso, um salto de fé em direção ao céu. Muitos ainda não entenderam, ou não enxergaram isso e continuam buscando as coisas daqui. Tem muito cristão por ai que deixou de orar e ler a bíblia pra ir às campanhas em busca de bênçãos materiais. Tanta gente passando horas em frente a TV. Tantos que estão presos aos vícios, tantos que defendem com unhas e dentes o sistema deste mundo. Não vamos nos enganar irmãos, o tempo está passando para esta criação acabar. João deixa bem claro que a primeira criação passará, no verso 1. Não tente acumular coisas aqui. Elas não são o principal. Busque sempre em primeiro lugar esse novo reino, este novo nascimento, mesmo vivendo aqui. A noiva que desce do céu, ela é nova, não só nas vestes, mais interiormente. Não pense que as alegrias deste mundo podem se comparar com a do novo mundo. Não se engane pensando que o que existe aqui é melhor do que nos foi preparado. Quantos pensam que no céu será um tédio! Ilusão! O ouvido jamais ouviu nem olho algum viu o que Deus tem preparado para nós. Eu tenho certeza que Deus tem poder suficiente para te surpreender naquele dia. Há uma música antiga que faz esse contraste das preocupações principais da vida:

Você sabe as notícias do dia, você sabe a rotina da vida e conhece as pessoas chegadas e as estradas que levam pra lida. Você sabe aonde trabalha e a escola aonde estuda. Sabe até dizer quando vem chuva no instante em que o tempo muda. Você sabe se alguém anda certo lá por perto do bairro onde mora e conhece os que chegam de longe e as pessoas que já vão embora. Você sabe falar de política e de crenças conhece demais. Sabe tudo o que vai pelo mundo, pois lê tudo o que vem nos jornais. Mas será que você sabe que Jesus está voltando, que mais dias, menos dias, esta hora está chegando. Cristo vem depressa, Cristo vem depressa, isto eu sei de cor, isto é promessa, Cristo vem depressa.

                Por fim, existe uma imensa alegria neste texto. Não falo da alegria de João ao ver a nova terra ou a nova Jerusalém. Também não falo da alegria da igreja quando chegar lá. Eu falo da alegria de Deus. Há muito tempo atrás, olhando para a cidade de Jerusalém, Jesus chorou. Como eu gostaria de ajuntá-las, disse ele, como uma galinha faz com seus pintinhos, mas vocês não quiseram. Mas aqui sim, aqui estamos todos reunidos, estamos enfim debaixo de suas asas. Aqui sim, descobrimos que o sofrimento pelo qual passamos não se compara à glória deste novo porvir. Que na realidade nós não perdemos para ganhar, nós só ganhamos. Que Cristo já esperava por nós. Que Ele já nos queria lá com Ele neste novo reino surpreendente, infinito e belo. Maranata. Ora vem, Senhor Jesus!


[1] fonte: bíblia anotada.
[2] L. Berkhof. Teologia sistemática. 3º ed.

2 comentários:

  1. É como diz Keats, “Verdade é beleza, beleza é verdade”... a beleza do evangelho está ancorada em todas as verdades que Deus já nos disse. A cidade do texto, claramente, é o Reino em sua expressão consumada, pleno de uma beleza madura, experimentada, aperfeiçoada pelos sofrimentos por que agora passam os eleitos. Uma vez redimidos de todo mal, eles assumirão o esplendor da glória que lhes foi preparada. Belo sermão, bela esperança.

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