domingo, 18 de fevereiro de 2018

“A criança é o pai do homem”. Assim dizia o poeta Wordsworth em 1802, na famosa poesia “the rainbow”. Imagine um tempo sem luz elétrica, sem confortos, geladeira, pokemons. A simplicidade da vida pastoril de tempos antigos, como a do poeta da frase acima é realmente muito diferente da nossa vida de 2018.
Mas ele estava certo ao escrever que a criança é o pai do homem. Veja, há muitas implicações nessa pequena frase. A mais óbvia é dizer que a criança prenuncia, mostra, de certo modo, o que ela será mais à frente. Mais existe outra. Lembro que assisti a um filme da década de 1980, koyaanisqatsi, musicado por Philip Glass. Ao longo de 1h e meia de filme somos levados a uma viagem. Começamos com imagens da natureza e um som tranquilo e suave, mais isto vai mudando até que no final do filme, as repetições próprias do Minimalismo do compositor, juntamente com imagens cada vez mais rápidas e repetitivas mostram o quanto mudamos em nossas relações com o mundo e as pessoas. É uma ideia bíblica: A curva que o ser humano fez não é exatamente para cima, como uma parte da ciência quer nos convencer. A relação do homem com o mundo, em muitos sentidos, é uma curva para baixo.
Ao pregar o sermão do monte, Jesus estava pregando para pessoas simples, que sabiam o que era dor, conheciam muito mais que nós sobre humildade e dependência, fome e sede, pureza e consolação. Por que eles sabiam mais? Ora, olhe a sua volta. A fase de nossa infância passou. Nossa relação com o mundo tornou-se artificial de uma forma assustadoramente rápida. Enquanto os ouvintes de Jesus não tinham a que recorrer e tinham que enfrentar a si mesmos, nós nos deixamos levar pela sedução da artificialidade. Estou escrevendo este texto em frente a uma tela. Toda nossa relação com o próximo quase sempre envolve números, celulares e facebook. Está raro os amigos se reunirem, o partir do pão, o orar no quarto, as brincadeiras de crianças com crianças de carne e osso, as famílias reunidas, o amor sem interesse. Estamos longe do arco inicial do filme, da criança de Wordsworth.
De certo modo, já era esperada, toda essa história, toda esta curva que estamos fazendo desde que fomos criados. Como diz C.S.Lewis, Deus não criou robôs! Eis então nossa vida cristã. Ela também parece ter sido atingida. Quantos são os que continuam num primeiro amor? Quantos são os que deixam cristo entrar e ceiam com ele? Quantos são os que choram com os que choram no mundo? Somos parte de uma massa mesmo, indo friamente para os mesmo lugares, fazendo as mesmas coisas e terminando do mesmo jeito? Não, Deus viu que não há um bom sequer... Não existem aqueles que continuam para sempre num primeiro amor, que estão sempre ceando com Cristo, que estão sempre chorando com o mundo. Somos resultado das nossas próprias repetições egoístas de nosso jovem coração.
Esta ideia de repetição de padrões já era visto pelo poeta e ganhou contornos reais a partir dos anos 50-60 do século XX. O absurdo desta relação é visto, por exemplo, em Come Out, do compositor Steve Reich, peça de 1989. A frase come out é repetida sem parar, num loop manipulado pelo compositor, de tal modo que ela começa a perder o contorno, perder o sentido, desfigurando algo tão caro aos seres humanos: a fala. É como ver um quadro de Picasso, onde as pessoas não tem mais rosto próprio. A artificialidade pode ser sedutora e essa curva para baixo persegue todo ser humano.
De fato, não é possível voltar a ser criança novamente depois que perdemos a inocência e Wordsworth reconhece isso em sua poesia. O que podemos fazer então, diante de nossos descaminhos que nos conduziram até onde estamos? Só podemos clamar para que Deus intervenha. Digamos como o salmista: restaura-nos, Ó Deus dos exércitos, faze resplandecer o teu rosto e seremos salvos! (SL 80). Cantemos com o compositor: Aviva-nos Senhor, oh dá-nos teu poder! De santidade, fé e amor, reveste nosso ser! Como melhorar diante deste quadro perturbador? Apesar de tudo, que possamos ter aquele momento com Deus; que possamos ouvir com atenção, dispostos, com interesse ao nosso irmão; que olhemos para Jesus e nos preocupemos em ajudar nosso próximo com um espírito acolhedor, sincero e honesto; que olhemos para as coisas de cima, juntando tesouros que não podem ser roubados. Que não nos desesperemos, mas que nossa consciência se tranquilize, ao olharmos para nosso próprio exílio, acolhendo a graça que pode nos salvar...

Por : Ismael Patriota, 17/02/2018. Rio de Janeiro.

Um comentário:

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