É natal! o ano novo já vem, e eu me vejo escrevendo meu último post do ano. Eu coloquei textos que fizeram parte das minhas experiências cristãs ultimamente. Mas faltou uma coisa e eu não posso deixar de terminar o ano sem escrever o que vou escrever. Estive lendo um livro do Pastor René Kivitz chamado Outra Espiritualidade. Ele deixa bem claro que está cansado desse cristianismo infantil que tanto vemos por ai. E eu quero também prestar minha indignação também. Quero deixar bem claro que eu estou cansado! Sim, estou cansado desse nosso cristianismo que muitas vezes estive envolvido e pensei estar certo. Estou cansado das pregações vazias, das orações repetitivas e dos discursos chatos. Estou cansado, meus amigos...
Bem que eu poderia até dizer pra mim mesmo que o melhor é não falar, mas continuar calado. Porém, não posso. Não consigo mais. A coisa chegou num patamar do insuportável e eu simplesmente não posso mais aguentar. Preciso reclamar, preciso falar, não consigo mais me conter!!!
Pra começar, vamos á palavra pregada. É de se lamentar que tantos pastores subestimem a palavra de Deus. É a mesma ladainha de sempre. Eu não aguento mais ouvir a mesma coisa. Desde o "diga pra o seu irmão: Deus te ama...Deus tem um plano em sua vida...bla bla bla" até o "temos que obedecer, meus irmãos, porque quem não obedece tem sua vida amaldiçoada"... Além de frases teologicamente suspeitas, elas vêm sozinhas, sem desenvolvimento algum do texto. Pega-se por exemplo, o texto de salmos 91.1 e o que ouço é basicamente: "Irmãos, temos que estar na sombra do Todo-Poderoso, porque assim estaremos seguros...."
Caramba! Será possível que se repita o que já se leu? Será possível que não se tenha nenhuma novidade? Irmãos, eu li que Deus revela segredos aos que o buscam. Ou os pastores não o querem buscar ou Deus não quer revelar! O que nos leva a simples conclusão que o problema não é Deus. São os pastores! Estou cansado das pregações simplistas, que não querem chegar a lugar nenhum e que não saem de nenhum lugar...não se ouve nada novo...não se tem uma busca pelos originais, não se vê nenhuma preocupação em destrinchar o texto e o resultado não pode ser outro que uma pregação sem pé nem cabeça, além de chata( alguns pastores conseguem impressionar através da sua voz, mas com o mesmo resultado.) Pra mim, isso é um desrespeito tanto pela palavra, que é tratada simploriamente, como também pelo ouvinte, que tenta viver uma vida cristã digna mas que ouve nada menos que a mesma coisa. Eu nuca ouvi na minha vida inteira uma pregação que citasse abundantemente os pais da igreja, os puritanos entre outros grandes pregadores. Porém basta ler uma mensagem do Spurgeon pra se perceber o respeito com a palavra, a minuciosa escolha das palavras e a profundidade de seu conteúdo. Parece que se está num outro mundo da pregação. To cansado desses pastores simplórios...pra mim era melhor que não ouvesse pregação desse tipo...seria menos desgastante pras nossas mentes e pros nossos ouvidos...
Quando fui pregar na Igreja Batista Calvário para os jovens, orava ao Senhor todo dia pedindo o seu conselho, a sua sabedoria e sua graça. Anotava tudo o que vinha na minha mente e tive que refazer várias vezes a abordagem dos texto o do meu raciocínio para que fosse coerente. Foi árduo! E claro que foi e sempre será. Se tratamos um texto bíblico com desprezo, achamos na verdade que somos nós os capazes e que por isso não se precisamos pesquisar e buscar nada. Mas se nos colocamos em nosso lugar e reconhecemos nossa incapacidade, encaramos a seriedade que é a pregação. Passamos a reconhecer quão valiosa é a palavra de Deus pra ser exposta de qualquer jeito. E é um prazer sem palavras ver que Deus realmente fala coisas interessantíssimas e que quando acabamos, somos outra pessoa.
Mas a coisa não pára por ai. O problema do nosso cristianismo está muito além da palavra. Nós vemos na hora do louvor também. E aqui mais uma vez eu digo: Não aguento mais.
É impressionante. As pessoas só querem adorar! Elas querem chorar, chorar e continuar chorando! É um chororô sem fim! Ficam pedindo o perdão de Deus, pra que ele possa fazer um milagre em suas vidas, pra subirem o mais alto só pra ver Jesus, querem pisar na cabeça do Diabo, querem ser restituídas, querem que Deus as ensine a obedecer e a ter santidade, etc, etc, etc. Depois que o diante do trono começou com essa história do "eu me arrependo Senhor", todo mundo começou a chorar arrependido de seus pecados. E o que mais vemos é todo mundo querendo tocar no coração de Deus, pegar nas sandálias de Jesus e fazer o pai sorrir. Tem CDs que são lançados para a gente colocar no nosso quarto e ficar lá, prostrado, adorando, adorando, adorando....numa coisa meio mística (é só colocar um pouco de incenso que vira um verdadeiro ritual budista). Músicas que se repetem por 15 minutos, cânticos espontâneos e danças são a moda do louvor hoje em dia. É impressionante como pegou pegou e hoje qualquer igreja tem de ter seu grupo de dança, e se não tiver parece que falta algo no culto. Mas, se observarmos bem, tem muita coisa desnecessária aqui e pelo que vejo, se dança tanto e se adora tanto que quando chega a parte da palavra ninguém aguenta mais. Afinal o importante é adorar e não ouvir a palavra...é o que inconscientemente se diz no culto...
Mas não pára por aqui também.Nossa visão do cristianismo também está equivocada. Precisamos pensar um pouco a respeito disso. Pra começar, nossa noção de arrependimento está equivocada. Associamos arrependimento com esse chororô frenético dos últimos tempos e ficamos sem saber o que realmente significa o arrependei-vos. O termo usado por Pedro em seu discurso em Atos 2 é o mesmo que o usado por Paulo em Romanos 12: Metanoia. Arrependimento não é choro nem lamentação. Arrependimento é transformação. De vida, de pensamento, de atitudes!Chega! Acho que Deus também não aguenta tanto choro de crente no momento de culto. Chega de se fazer de coitadinho irmãos e vamos tomar vergonha na cara e transformar nossas atitudes. Chega de tentar subir nas árvores pra ver Jesus e vamos começar a chamar sua atenção com a excelência de nossas vidas. Em segundo lugar, esse conceito de Deus fazendo isso e aquilo por nós faz parte de uma cultura católica de passividade. Esse cristianismo passivo é pernicioso! É perigoso e precisa ser combatido. Pra exemplificar, vejamos uma das músicas que mais se canta hoje em dia: Entra na minha casa, entra na minha vida..etc...em uma parte diz: " Me ensina a ter santidade...faz um milagre em mim." Meus irmãos, sejamos sinceros. Deus não nos ensina a sermos santos. Santidade, além de um estado, é uma atitude, pois nós lemos na bíblia: todo aquele que tem essa esperança, purifica-se a si mesmo!!!!!ao cantarmos me ensina a ter santidade, transferimos pra Deus algo que é de nossa responsabilidade.To cheio disso irmãos, dessa passividade que o tempo todo se prostra diante de Deus como se fôssemos tomados por Deus de uma forma mística. Não vamos confundir humildade com passividade! Chega disso. Vamos tomar jeito. Nada de esperar de Deus que a nossa vida se torne isso e aquilo. NÓS somos moralmente responsáveis por nossos atos e o que eu vejo na bíblia não é um cristianismo passivo, mas altamente vivo e ativo na vida do crente. Vejamos por exemplo a igreja primitiva. Eles caiam na graça do povo...e por que? com certeza não era porque ele viviam adorando e chorando nos cultos! Ao contrário, em suas vidas, eles mostravam o que significa ser cristão! Do fruto do Espírito que Paulo fala, somente um é interior, que é a temperança, ou domínio próprio. Todos os outros são externos, isso é, devem ser vistos. O problema é que nós não queremos ser vistos. Queremos sentir. O que importa é sentir, é adorar, e ser tomado por Deus e ter uma 'experiência" com Ele, etc.....Mas Chega! Eu não vejo Deus me pedindo esse cristianismo que está sempre sentindo e esperando. Jesus disse que os adoradores adoram em espírito e em verdade. Há muita racionalidade aqui! Há muita atitude e menos emoção.
Deveríamos aprender mais com Lutero e sua Reforma. Este homem de Deus utilizou o louvor como ferramenta para o ensino das verdades cristãs. Seus propósito não era fazer o povo sentir e é impressionante vermos declaraçõs como: "o louvor de hoje foi uma bênção. Nossa, como eu sentí e presença de Deus." Em nossa preocupação em sentir Deus, nos desviamos do propósito do louvor de adorar a Deus, entronizá-lo, louvá-lo por seus feitos e agradecê-lo por mandar Jesus, nosso redentor. Não cantamos mais músicas como "Dá-me mais graça, Senhor, dá-me mais graça, passa os teus dedos nos meus olhos, vem me consolar..." ou "Cristo levou sobre si as nossas dores, ele levou sobre si as nossas maldições...".O que vemos é músicas do tipo " Restitui, eu quero de volta o que é meu" ou "Eu fui no terreno do inimigo e eu tomei tudo o que me roubou...". Percebe como é sutil nesse tipo de música uma centralização na vontade do homem e não na vontade de Deus? É, a coisa é séria. Começamos a cantar para satisfazer nossos desejos. Começamos a adorar a criatura em vez do criador. E tem mais. Deixe-me confessar aqui. É muito ténue a linha que divide uma verdadeira adoração de uma adoração mística. Em música isso é muito fácil. Eu mesmo como músico sei que eu posso sentir muito mais numa apresentação de musica clássica do que no louvor apresentado a Deus. A diferença está não no sentimento, mas em quem recebe. É claro que o Espírito de Deus testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus, mas ao meu ver isso não tem a ver o sentir, mas com o saber! Nós sabemos que somos filhos de Deus e por isso O adoramos. Isso é racionalidade, isso é adoração! E é por isso que adoração não é somente louvar. Por isso nós adoramos com nossas atitudes, pensamentos e cânticos; nós sabemos quem é o nosso pai e nós sabemos o que fomos, o que somos, o que vamos ser e o porquê de tudo isso.
Tem muito pano pra manga aqui. É preciso rever nosso conceito de cristianismo e começar a questionar as coisas. Eu sei que muitos não concordaram com algumas coisas aqui. Mas uma coisa é certa: sentir não é adorar! vamos tomar jeito e aprender isso ou nosso louvor nunca irá mudar. E vou mais além. Nunca nossa vida irá mudar se não aprendermos a deixar nosso mundo cristão de lado e formos ao mundo de Cristo. Nó aprendemos em nossa cultura a sermos água de torneira. O que o mundo precisa é de um pouco de água com gás. Sinto muito, mas as músicas lindas mas que não trazem verdades cristãs já não fazem efeito em mim. Eu não choro mais com os filmes e os dramas dos personagens. Essa cultura de ficar observando a história de outros me incomoda cada vez mais. É muito mais emocionante fazer a minha história. Questionar é muito melhor que contemplar. Chega. Pra mim chega. É muito fácil concordar com o que todo mundo diz. E se todo mundo dissesse como já disseram uma vez: Jesus é mentira. Eu digo Vai-te verdade, pois tudo o que quero é Jesus.
Estou cansado de mentir, é o que diz o título deste post. E estou mesmo. Nossa, como é fácil viver em um cristianismo de mentiras. Ir ao culto nos domingos, sentir Deus no louvor, e ouvir uma pregação que não muda minha vida. Como é fácil ir vivendo sem questionar, sem nunca buscar uma gota a mais da palavra de Deus. Como é fácil colocar um CD no meu quarto e começar a sentir Deus e me emocionar. Ser água de torneira, sem gosto, sem gás, sem nada. Como é fácil viver nesse mundinho que nós muitas vezes criamos, num cristianismo que não muda nossa vida, que não nos fere, que não nos faz chorar, que não dói, que não nos custa nada. Pra mim, esse cristianismo me cansou. Eu não consigo mais viver nele. Estou saindo. Deixando de vez. Os que quiserem ficar, que fiquem. Eu não fico e digo com todo orgulho que vou nadar contra a correnteza. Vou enfrentar os perigos de se viver longe dos outros peixes, de ir pra lugares desconhecidos, de explorar rotas pouco comuns e de não saber o que vou encontrar. Quem quiser vir está convidado. Vai ser uma viagem em tanto...